Tal como Sintra, pertinho de Lisboa (pouco mais de 80 quilômetros) está a encantadora cidadela de Óbidos. A proximidade com a capital portuguesa, faz com que muitos turistas optem por um bate-volta a partir de Lisboa. Entretanto, na nossa viagem de carro pela parte norte de Portugal, optamos por fazer um trajeto circular e, no nosso roteiro, após visitar Sintra, o próximo destino encantador foi a vila murada de Óbidos.
Confira aqui no blog MV:
História de Óbidos
Óbidos (antiga Oppidum – que significa cidadela ou cidade fortificada) foi fundada em 308 a.C pelos celtas, tendo suas terras sido ocupadas por romanos, visigodos e mouros; até que em 11 de janeiro de 1148, Óbidos foi tomada dos mouros pelo primeiro rei de Portugal – D. Afonso Henriques.
Posteriormente, no século XIII, D. Dinis ofereceu o Castelo de Óbidos para a rainha Santa Isabel, e até 1834 a cidade ficou conhecida como “presente das rainhas“, pois a vila fazia parte do dote de muitas delas, como foi o caso da Rainha Santa Isabel, Filipa de Lencastre, Urraca de Castela, Leonor de Aragão e Leonor de Portugal.
A partir do momento em que Óbidos passou a pertencer à Casa das Rainhas (ao longo de várias dinastias), o vilarejo foi enriquecendo. Porém, a realidade mudou no século XVI, quando o assoreamento do porto encerrou a ligação de Óbidos com o mar, e Óbidos entrou em declínio.
Todavia, atualmente o cenário novamente se altera: Óbidos foi restaurada e ressurgiu como um dos locais mais visitados de Portugal.
A cidadela, que conta com pouco mais de 10 mil habitantes, transformou-se em Vila Literária, passando por um processo de reabilitação dos espaços degradados, os quais foram transformados em livrarias.
E diante desse cenário é que em 2015, Óbidos foi considerada pela UNESCO como cidade literária e, em 2007, o Castelo de Óbidos eleito uma das sete maravilhas de Portugal.
Conhecer a cidade murada é algo que aconselho fortemente para qualquer viajante que vai a Portugal. Se Sintra lhe proporciona a experiência de conhecer palácios, Óbidos lhe proporciona um mergulho na história medieval com toques de contos de fadas.
Quanto tempo ficar em Óbidos?
Um dia (ou até menos) é o suficiente para conhecer a vila de Óbidos, pois é pequena.
Vindo de Sintra, chegamos em Óbidos por volta das 19 horas. Paramos o carro do lado de fora da muralha e seguimos direto em busca de um restaurante para jantar.
Na manhã seguinte acordamos cedo e fomos conhecer a vila antes dos turistas chegarem (principalmente aqueles que fazem bate-volta a partir de Lisboa).
Considerando a tranquilidade do lugar e a ausência de turistas pela manhã, até meio dia conseguimos concluir nosso roteiro de passeio e seguir viagem para Aveiro.
Dica: embora não tenhamos dormido em nenhuma pousada do lado de dentro da muralha, adorei a experiência de visitar a pacata cidade murada durante a noite e, no dia seguinte, pela manhã.
Durante a noite é difícil ver alguém caminhando pelas ruas de paralelepípedos, uma experiência diferentemente encantadora que remete à era medieval e te faz realmente viajar no tempo.
Por ter feito essa viagem durante a baixa temporada (novembro), o fluxo de pessoas estava baixo. Dizem que dois meses antes o movimento foi muito grande, o que pode ser um problema para quem deseja subir na muralha e percorrer todo o perímetro da vila ou simplesmente para quem não gosta de lugares muito lotados.
Embora novembro seja um mês chuvoso em Portugal, tivemos muitos pontos positivos em viajar nessa época!
Onde se hospedar em Óbidos?
Se assim como eu, você busca ter muitas experiências diferentes durante sua viagem a Portugal, pernoitar em Óbidos não deve ficar de fora da lista.
Embora a vila seja realmente muito pequena, sendo possível conhecê-la em até mesmo meio período, dormir em uma cidade medieval murada, com pouca iluminação, ruas de pedras e quase ninguém transitando por elas, pareceu-me bem interessante.
Decidido isso, agora o próximo passo é escolher se quer ficar dentro ou fora da muralha.
A principal opção de hospedagem da vila é também a maior atração do local: o Castelo de Óbidos – um monumento histórico nacional do século XIII, eleito em 2007 uma das Sete Maravilhas de Portugal. O Castelo funciona como pousada (do grupo Pestana), sendo a mais renomada de Óbidos.
*A nomenclatura “pousada” em Portugal, não tem o mesmo significado do que no Brasil. Enquanto aqui “pousada” se refere geralmente a um tipo mais simples de hospedagem (familiar, com pouco luxo), em Portugal, “pousadas” são hospedagens instaladas em edifícios históricos (castelos, palácios, conventos), em regra bastante luxuosas.
A segunda opção de hospedagem que indico dentro da muralha é o Hotel Casa das Senhoras Rainhas, que até cogitamos em reservar. Embora tenha aparentado ser um bom hotel, desistimos pelo fato de não ter estacionamento próprio (na insegurança de não saber como seria para parar o carro por lá, preferimos não arriscar).
Considerando que passaríamos apenas uma noite por ali, priorizamos o custo-benefício, e por isso escolhemos nos hospedar no Exe Vila D’Óbidos, do lado de fora da muralha.
Trata-se de um hotel 4 estrelas, construído recentemente, com quarto amplo, cama confortável, varanda com vista para a muralha e para o Castelo de Óbidos, piscina, café da manhã incluso e estacionamento grátis.
Foi uma ótima escolha e o preço que pagamos foi melhor do que as opções dentro da muralha.
Outra opção de hospedagem do lado de fora da muralha (mas muito próximo de sua entrada) é o Hotel Real d’Óbidos, um hotel 4 estrelas, tradicional, mas que, pelas fotos, aparenta ter uma decoração over demais. Fiquei com receio de ter cheiro de mofo, então não quis.
Obs. No final das contas, foi muito fácil estacionar o carro, e qualquer hotel que escolhêssemos, mesmo que sem estacionamento, teria dado certo, já que a cidade estava repleta de vagas tanto do lado de fora quanto dentro da muralha (vi poucos carros transitando do lado interno e não deu para entender muito bem a dinâmica).
Mas isso se deve a dois fatores: época da viagem (novembro – baixa temporada) e horário da visita (a noite e logo pela manhã, antes das pessoas acordarem e/ou chegarem na vila).
Onde comer em Óbidos?
Assim que chegamos em Óbidos, já imaginando que tudo se encerraria cedo, tratamos logo de procurar um bom restaurante para jantar.
De fato não havia muitas opções abertas e, olhando o TripAdvisor, os primeiros colocados da lista estavam fechados.
Foi então que decidimos ir onde havia alguma movimentação: Petrarum Domus – provavelmente o único restaurante onde havia pessoas naquela noite em Óbidos. Agradou!
O restaurante chama a atenção pela decoração interior: todo em pedra, combinando perfeitamente com a noite na cidadela, remetendo ao perfeito cenário de cidade medieval.
A comida também estava boa. Pedimos um prato de bacalhau à natas para dividir, couvert (pães e queijo de Azeitão) e meia garrafa de vinho, e a conta ficou em 21 euros.
Acho que em razão do dia ou época da viagem, eu não dei muita sorte em relação aos restaurantes, já que a maioria não estava funcionando, mas a verdade é que há diversos restaurantes dentro e fora das muralhas.
O mais recomendado é o Tasca Torta, localizado na rua principal da vila (Rua Direita, 81). Aconselho fazer reserva prévia para não correr o risco de ficar sem lugar, visto que o local é pequeno.
Também na listinha de must go, aparece o restaurante A Nova Casa de Ramiro, que fica do lado de fora da muralha, próximo à saída e junto ao Restaurante Pretensioso (Rua Porta do Vale, 12).
Para um café, a boa pedida é a Capinha d’Óbidos (que também está localizada na Rua Direita), famosa pelo seu aroma de pães e doces preparados no forno a lenha, bem na frente dos clientes.
A última dica é o pub Ibn Errik Rex, composto por 4 grandes mesas de madeira decoradas com garrafas antigas, ao melhor estilo de uma “legítima taberna portuguesa”.
O pub serve o típico chouriço flambado na hora, acompanhado de queijo da Ilha da Madeira picado e pãozinho português.
Emoldurado na parede há um bilhete assinado por Juscelino Kubitschek, afirmando que este era seu bar preferido.
O que fazer em Óbidos?
A programação na vila de Óbidos é bem simples, pois o principal que se tem a fazer por lá é andar por suas ruelas e muralha, passear na frente do Castelo de Óbidos (a entrada é restrita aos hóspedes), visitar as igrejas e provar a famosa ginjinha (licor de cereja servido num copinho de chocolate).
Outro ponto interessante é a entrada principal da vila, pois data do século XVII e é toda revestida por tradicionais azulejos portugueses brancos e azuis, tendo a paixão de Cristo como temática, acompanhada de uma capela-oratório dedicada a Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Óbidos.
A rua principal da vila é a rua Direita; ela leva ao Castelo, mas antes passa por capelas, lojinhas de souvenirs, pela Praça de Santa Maria, onde há uma coluna de pedra em estilo manuelino decorado com uma rede de pesca (emblema de D. Leonor, mulher de João I, que o fez em honra aos pescadores que tentaram salvar seu filho do afogamento) e várias igrejas, incluindo a igreja matriz de Santa Maria, onde se casaram Afonso V e sua prima Isabel em 1444, quando tinham 10 e 8 anos de idade respectivamente.
No seu tour também pode incluir uma visita ao Museu Municipal, que funciona de terça a domingo.
Eu acrescentaria, ainda, uma passadinha na livraria do Mercado Biológico, que se trata de um lugar curioso: mistura livros com frutas, verduras e legumes orgânicos.
Se gostou, pode complementar mais um pouco o roteiro com a Livraria Santiago, que foi montada dentro da antiga Igreja de São Tiago, bem próximo a entrada do Castelo de Óbidos, bem no final da Rua Direita, próximo a um dos acessos de subida as muralhas.
Foi mantida a arquitetura da igreja (escadas, púlpitos e áreas dos altares), mas foram acrescentadas estantes arredondadas, mesas e poltronas.
Tudo é muito charmosinho e encanta… Mas o que eu mais gostei mesmo foi caminhar sobre a muralha e garantir uma visão panorâmica de Óbidos (há escadas que dão acesso a ela, sendo que a principal fica na entrada da vila).
A muralha possui um quilômetro e meio de extensão e de lá é onde se tem a vista mais bela de todo o cenário romântico do local. Atenção redobrada quando estiver caminhando sobre a muralha, pois não há proteção na lateral, corrimão ou guarda-corpo (indico o uso de tênis ou algum sapato confortável, preso ao pé e que não deslize).
Considerando que em alguns pontos a muralha atinge 13 metros acima do nível do chão, creio que tive sorte em pegar a vila bem tranquila naquele dia, pois caminhar sobre a muralha com muita gente não me pareceu muito seguro, já que o risco de queda aumenta diante de eventual fluxo intenso de pessoas, principalmente para quem viaja com crianças (inclusive, não indico subir na muralha se estiver acompanhado de crianças).
Finalize o passeio provando a tradicional ginjinha, uma bebida típica feita a partir da ginja, um fruto parecido com a cereja.
Após colheita, a ginja é curtida em aguardente com açúcar e canela por alguns meses, sendo que do preparo nasce a ginjinha – um licor digestivo tipicamente português, servido em um copinho de chocolate (adorei).
É bastante fácil encontrar a ginjinha em Óbidos. Os estabelecimentos que a vendem em geral colocam uma placa bem grande escrito “ginjinha” e uma bancadinha com o licor e copinhos de chocolate, onde os clientes são servidos. O preço varia de 1 a 2 euros.
Festas em Óbidos
No decorrer do ano, acontecem os seguintes festivais em Óbidos:
- Festival do Chocolate: entre março e abril (o chocolate de Óbidos é muito bem conceituado em Portugal).
- Mercado Medieval e Festival da Ópera: entre julho e agosto.
- Vila Natal: entre dezembro e janeiro.
Durante os festivais a vila fica bastante cheia de turistas.
Em Óbidos, perder-se é o caminho: aproveite o dia para se distrair com os becos floridos, com o artesanato e as casinhas pintadas com faixadas azuis, amarelas e maçanetas em forma de mãozinha.
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